segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Nossa Senhora, a Porta da Misericórdia

O antigo ícone de Nossa Senhora Porta da Misericórdia, do Santuário Greco-católico da Transfiguração do Senhor, situado na cidade de Jaroslaw, no sudeste da Polônia, acompanhou a celebração da celebração eucarística e o rito de abertura da Porta Santa, na Basílica de São Pedro. A presença do ícone na celebração de abertura do Ano Santo da Misericórdia torna-se ainda mais significativa se considerarmos que o Santuário de Jaroslaw está situado a pouco mais de 200 km do Santuário da Divina Misericórdia, situado em Cracóvia, na Polônia. Papa Francisco tomou conhecimento da existência do ícone através do Frei Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, na Cidade do Vaticano. Então, Papa Francisco expressou o desejo do ícone da “Porta da Misericórdia” estar na cerimônia de abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro. Graças a intervenção de Piotr Nowina, embaixador da Polônia, junto às autoridades polonesas e da Igreja Greco-católica, foi possível adiantar todos os trâmites legais necessários para que o ícone estivesse a tempo na celebração da abertura do Ano Santo da Misericórdia e na cerimônia de abertura da Porta Santa1, que se realizou no último dia 8 de Dezembro, na Solenidade da Imaculada Conceição de Maria.

O ícone de Nossa Senhora Porta da Misericórdia, venerado pelos católicos de rito bizantino, foi pintado em 1640. Em 1779, a imagem foi reconhecida como “milagrosa” pelo Papa Pio VI. Alguns anos mais tarde, em 1996, o Papa João Paulo II enviou um representante com uma coroa para ser colocada no ícone. Uma réplica da imagem é venerada pelos católicos ucranianos em Buenos Aires, na Argentina, onde serviu o falecido bispo ucraniano Stephan Chmil. Por ocasião do Ano da Misericórdia, a imagem foi designada como ícone do Ano Santo da Igreja Greco-católica ucraniana. O ícone, que combina as tradições ocidentais e orientais, foi escolhido pelo Papa Francisco como um sinal de ânimo para todos os cristãos e também com a finalidade de alcançar a unidade e a paz no mundo inteiro2. Diante da importância deste ícone no Ano Santo da Misericórdia, meditemos a partir das palavras do Frei Raniero Cantalamessa, proferidas na terceira pregação do Advento, que referiu-se a Nossa Senhora como Porta da Misericórdia. Esta reflexão torna-se ainda mais relevante e significativa se considerarmos que esta “Porta da Misericórdia” diz respeito não somente ao Ano Jubilar, mas também a todo o Mistério da Redenção da humanidade e a cada um de nós em particular.


A Mãe de Deus: porta pela qual a misericórdia entrou no mundo

A Virgem Maria “foi a porta através da qual a misericórdia de Deus, com Jesus, entrou no mundo”3. Dessa forma, Nossa Senhora tornou-se a “Porta da Misericórdia”, através da qual o Filho de Deus, e com Ele a misericórdia divina, veio ao mundo. Entretanto, a Virgem de Nazaré somente pôde ser esta Porta da Misericórdia, através da qual o Menino Deus veio ao mundo, justamente porque ela foi a primeira a passar por essa Porta. A Mãe de Deus foi a primeira a receber a misericórdia divina, os méritos infinitos da paixão, morte e ressurreição de seu Filho Jesus Cristo, na sua Imaculada Conceição. Por isso, é muito significativo que o Ano da Misericórdia tenha iniciado na sua Solenidade comemorativa. Desse modo, a Santíssima Virgem nos precedeu na passagem da Porta Santa, pois experimentou antecipadamente a misericórdia divina, com a finalidade de tornar-se a verdadeira “Porta da Misericórdia”, através da qual Jesus Cristo entrou no mundo, e com Ele a misericórdia de Deus. A Virgem Maria precedeu não somente a humanidade, recebendo a misericórdia divina antecipadamente, mas a própria Igreja, que como Ela é também chamada a ser Porta da Misericórdia para os pobres pecadores. Enquanto Igreja, somos chamados a ser esta Porta Santa através da qual Jesus Cristo entra nas casas, nas famílias, na vida de tantas pessoas que precisam da misericórdia de Deus. Ao mesmo tempo, devemos ajudar estas pessoas a fazer uma verdadeira experiência da misericórdia divina, através do arrependimento profundo de seus pecados, do sincera determinação em romper com todo o pecado e em viver segundo a lei de Deus e da Igreja.
Nossa Senhora: porta através da qual entramos na misericórdia

A Santíssima Virgem é “a porta por meio da qual nós entramos na misericórdia de Deus, nos apresentamos diante do ‘trono da misericórdia’ que é a Trindade”4. Estas afirmações podem parecer exageradas ou até infundadas e, por isso, alguns podem discordar e dizer que Jesus Cristo é o único mediador entre Deus e os homens5. Com razão, pois esta é uma verdade bíblica inquestionável. Mas, isto não significa que não podemos ter um mediador junto ao único Mediador, já que esta mediação única se dá entre Jesus Cristo, que intercede por nós, e Deus. Além disso, não podemos negar também que Ele é o único Salvador dos homens6. Todavia, a respeito do acesso direto a Jesus Cristo, São Luís Maria Grignion de Montfort nos pergunta: “não teremos necessidade dum mediador junto do próprio Medianeiro? Será tão grande a nossa pureza que possamos unir-nos diretamente a Ele, e por nós mesmos? Não é Ele Deus, em tudo igual a seu Pai e, por conseguinte, o Santo dos santos, tão digno de respeito como o Pai? Pela sua infinita caridade tornou-se a nossa garantia e o nosso medianeiro junto de Deus, seu Pai, para aplacá-lo e pagar-lhe o que lhe devíamos. Mas será isso uma razão para termos menos respeito e temor à sua majestade e santidade?”7 Depois de pensar a respeito, reconheçamos a nossa pequenez e digamos abertamente “que temos necessidade dum mediador junto do mesmo Medianeiro, e que Maria Santíssima é a pessoa mais capaz de desempenhar esta função caridosa. Foi por Ela que nos veio Jesus Cristo; é por Ela que devemos ir a Ele”8. Desse modo, Nossa Senhora é a Porta da Misericórdia, através da qual devemos, no santo temor de Deus e na verdadeira humildade, entrar na misericórdia divina, nos apresentar diante da Santíssima Trindade.

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