terça-feira, 19 de abril de 2016

A Misericórdia que liberta

A Comunidade Anunciadores da Misericórdia tem em Mc 5,1-20 a página bíblica que Deus deu à ela para reviver como carisma na igreja. A passagem fala da cura do possesso de Gerasa. Nela vemos o poder que a misericórdia tem de libertar o homem de todas as formas de mal, confirmadas pelas palavras do papa Francisco do dia 25 de dezembro, Dia de Natal que disse: “Só a Misericórdia de Deus pode libertar a humanidade de tantas formas de mal – por vezes monstruosas – que o egoísmo gera nela. A graça de Deus pode converter os corações e suscitar vias de saída em situações humanamente irresolúveis.” Após ter libertado aquele homem Jesus o envia: “Anuncia o que a Misericórdia fez por você.” Traduzindo o que Jesus falou, pediu aquele homem que anunciasse a misericórdia que liberta, pois no encontro com Jesus Misericordioso nenhuma forma de mal pode subsistir. Há mesmo no diário de Santa Faustina passagens que nos ajudam a entender isso. “Na sexta feira, quando estava em Ostra Brâmane, durante as solenidades da Imagem foi exposta, assisti ao sermão, que foi pronunciado por meu confessor; o sermão tratava da Misericórdia de Deus; era a primeira coisa que Jesus há tanto tempo tinha exigido. Quando começou a falar sobre a grande misericórdia do Senhor, a Imagem tornou-se viva e os raios penetravam no coração das pessoas ali reunidas, embora não na mesma medida : uns recebiam mais, outros recebiam menos. Uma grande alegria inundou minha alma ao ver a graça de Deus. Quando terminou o sermão, não esperei pelo final da cerimônia, porque tinha pressa de regressar à casa. Mas, mal havia dado alguns passos, surgiu diante de mim uma multidão de demônios que me ameaçavam com suplícios terríveis e podiam ouvir -se vozes : “Ela nos roubou tudo aquilo que conseguimos com o trabalho de tantos anos.” Quando lhes perguntei: “Donde vindas em tão grande número?” – responderam-me essas figuras maldosas: “Dos corações dos homens, não nos atormente”. (D. 417-418) Por essa passagem podemos perceber o quanto a Misericórdia tem o poder de libertar-nos da ação do maligno. Além disso basta uma leitura atenta dos evangelhos para podermos encontrar a misericórdia que liberta. Jo 8,1-11 é um exemplo disso. Trata-se da mulher que tendo sido flagrada em adultério, foi arrastada até Jesus já com a sentença de morte decretada, pois segundo a lei de Moisés ela devia ser apedrejada. Mas a levaram a Jesus, å misericórdia e o fizeram com pedras nas mãos cada um deles. A primeira coisa que Jesus faz é usar de misericórdia para com aqueles homens ajudando-os a enxergar quem verdadeiramente eles eram: Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra. Percebendo que tinham pecado, que eram pecadores deixaram as pedras no chão e foram saindo um a um. A misericórdia agora é usada com a mulher que ali permanece e a quem Jesus pergunta se ninguém a havia condenado. Ao ouvir que não Jesus também lhe diz que não a condenação. A manda ir em paz e lhe pede que não volte a pecar. A misericórdia liberta aquela mulher da morte. Alguns identificam essa mulher com Maria Madalena, aquela que tendo experimentado a libertação realizada pela misericórdia mudou completamente de vida. Aqui está a primeira libertação realizada pela misericórdia que é a libertação do pecado. O encontro de Jesus com Zaqueu é um outro momento em que podemos ver o poder libertador da Misericórdia. Zaqueu era um cobrador de impostos que se tinha enriquecido às custas do sofrimento de outros. O que tornava o cobrador de impostos tão odiado em Israel? Os publicanos ou cobradores de imposto eram os coletores de tributos e taxas destinados ao Império Romano. Por essa razão, eram odiados pelo povo. Zaqueu não era bem visto nem querido exatamente por cobrar impostos e taxas destinados ao império romano sendo visto como traidor pelos demais judeus. E Zaqueu devia sentir um certo desconforto com isso. A Bíblia não documenta nenhuma reação ou sentimento de Zaqueu, apenas que ele deseja ver Jesus e se encontrar com sua misericórdia. Quando fica sabendo da passagem de Jesus por Jericó ele corre a frente da multidão e sobe a uma árvore para ver Jesus. Ele era baixinho e teria dificuldades para ver Jesus no meio da multidão. O que Zaqueu não sabia era que a misericórdia também o queria encontrar. E naquele dia, quando Jesus está passando por debaixo daquela árvore pára, olha pra cima e disse-lhe que era pra descer daquela árvore pois iria ficar em sua casa. Talvez fôssemos esperar uma palavra de reprimenda, de condenação mas ao contrário, encontramos a misericórdia que acolhe e no acolhimento que a misericórdia lhe faz Zaqueu é liberto do pecado a que estava acostumado. O impacto da misericórdia na vida de Zaqueu foi tão forte que ele sem que Jesus lhe dissesse absolutamente nada sentiu necessidade de devolver a quem havia prejudicado de alguma forma quatro vezes mais do que lhe havia tirado. Esta é a segunda libertação que a misericórdia realiza na vida do pecador: a assumir seus próprios erros e a corrigi-los. Outra passagem que me vem ao coração é o encontro de Jesus com a viúva de Naim. Essa mulher havia perdido seu único filho. Já era viúva e portanto a sua situação em Israel já era bastante difícil. Agora morre seu único filho que era a garantia de que aquela mulher conseguiria ter uma existência menos difícil. A mulher estava desconsolada. Mas por ali estava passando a misericórdia que ao ver a situação fica comovido com o sofrimento daquela mulher. E não passa indiferente ao seu sofrimento. Manda parar o enterro e modificar completamente uma situação que humanamente não tinha a menor possibilidade de ser modificada. Como diz o Deus. 1448:Ainda que a alma esteja em decomposição como um cadáver e tudo pareça perdido, Deus não vê as coisas da maneira que vemos. O milagre da Misericórdia pode fazer aquela alma ressurgir para uma vida plena. Deus pode deixar um grande mal tirar um bem maior. E ele libertou aquele jovem da morte. Essa é a terceira libertação que a misericórdia pode nos conceder: a libertação da morte. Certa vez Jesus estava na casa de Simão o fariseu. Havia sido convidado para participar do jantar. Enquanto jantavam uma mulher conhecida como pecadora pública -a bíblia não fala qual era o pecado daquela mulher – sem ser convidada entra naquela casa e sem pedir permissão começa a lavar os pés de Jesus com as lágrimas e a enxugar os mesmos com seus cabelos. Simão, apavorado interiormente presenciando aquele espetáculo julga que se Jesus fosse de fato Deus saberia que tipo de mulher o estava tocando. Foi quando Jesus lhe fez uma pergunta de quem amava mais: a quem se perdoava pouco ou a quem se perdoava muito. Simão respondeu que a quem se perdoava muito. Jesus então conclui lhe dizendo que aquela mulher fizeram por ele o que Simão se negará a fazer: lavar os pés e enxugar os mesmos. Ela muito amou, e por isso, os numerosos pecados que cometera estavam perdoados. Essa é a quarta libertação que a misericórdia realiza em nossa vida: a de julgar o outro. Todos sem exceção acompanhamos e conhecemos de alguma forma os sofrimentos de Jesus, a sua dolorosa paixão e tudo o que Jesus passou para nos salvar. Ele poderia ter se fechado numa grande mágoa, na raiva etc. Mas, mesmo depois de ter passado por tudo o que passou ainda encontrou forças para nós salvar. Do alto da cruz dirigindo -se ao Pai lhe diz: Pai, perdoai-lhes. Eles não sabem o que fazem. Jesus assim indica a misericórdia como o caminho certo para a cura da humanidade. Este é a quinta libertação que a misericórdia realiza em nos: a libertação da mágoa e do ressentimento. O combate espiritual e a misericórdia O devoto da Misericórdia deve saber que não terá uma vida facilitada por ser devoto da Misericórdia. Sim, pode acontecer que uma pessoa tendo conhecimento da devoção à Divina Misericórdia achei que a partir do momento em que passou a confiar mais na misericórdia seus sofrimentos acabaram. Quem assim pensar se esqueceu de uma palavra que Santa Faustina diz que aquilo que o demônio mais odeia é a misericórdia. De modo que gostaria de chamar a atenção para a necessidade de percebermos que a devoção à Divina Misericórdia é uma devoção para as pessoas que são combatentes espirituais. Gl 5 já nos mostra que em nossa carne se trava um combate entre a carne e o espírito, entre aquele que viver na carne mas é chamado a viver no Espírito. É desse combate que queremos falar e que em Éf 4 diz que devemos nos despir das vestes do homem velho para nós vestir mostra das vestes do homem novo criado a semelhança de Cristo Jesus. Mas, para isso a arma do combate à ser usada é a oração. Acerca desse assunto escreveu santa Faustina : É pela oração que a alma se arma para toda espécie de combate. Em qualquer estado em que se encontre, a alma deve rezar. Tem que rezar a alma pura e bela pois de outra forma perderia a sua beleza, devem rezar a alma que está buscando essa pureza, porque de outra forma não a atingiria, deve rezar a alma recém convertida, porque de outra forma cairia novamente, deve rezar a alma pecadora, atolada em pecados, para que possa levantar-se. E não existe uma só alma que não tenha a obrigação 6 rezar, porque toda graça provém da oração. (Deus. 146) Sem que a alma reze ela não obterá sucesso no combate espiritual. A segunda arma a ser usada no combate espiritual é o silêncio. No D. 119 santa Faustina diz que Deus não se comunica à alma tagarela e que ela é vazia interiormente faltando nela intimidade com Deus. No d. 452 diz que se as almas quisessem se recolher, Deus logo lhes falaria, porque a distração abafa a palavra do Senhor. D. 477 diz que o silêncio é como a espada na luta espiritual, e que cortará tudo o que queira apegar-se à alma. Diz que a alma silenciosa é forte, e nenhuma adversidade adversidades prejudicará se perseverar no silêncio, e que Deus opera sem obstáculos numa alma silenciosa. A terceira arma no combate espiritual para o devoto da Misericórdia é manter-se ocupado. Santa Faustina assim escreveu: D. 1127: diz que viu Satanás, que se apressava em procurar entre as irmãs, almas desocupadas. Almas preguiçosas e ociosas. Exorta-nos a estarmos atarefados e cansados. Já o ditado diz: mente vazia é oficina do diabo. Santo Afonso de Ligorio chegou a fazer voto de não perder tempo. A quarta arma no combate espiritual é não travar disputa com nenhuma tentação, isso é, não ficar alimentando pensamentos ou desejos contra os mandamentos, mas imediatamente buscar a confissão e colocar aos pés de Jesus Misericordioso as mesmas para que perdoa amanhã a força sobre nós. D. 1760 Outra arma – QUINTA - poderosa no combate espiritual é a paciência, exortando-nos Jesus a aprendermos a suportar com paciência as mim mesmo. Certa vez, Jesus chegou a dizer a s. Faustina que lhe agradava que ela tivesse paciência consigo mesma. Se o mandamento ordena que eu ame ao próximo como a mim mesmo, ele está me dizendo que aprenderei a ser paciente com o outro na medida em que eu aprender a ser paciente comigo mesmo. A sexta arma no combate espiritual do devoto da misericórdia é fugir das pessoas que murmuram como se foge da peste, deixando que os outros procedam como quiserem, mas, nós devemos buscar proceder como ele manda. Sétima arma no combate espiritual do devoto da misericórdia: evitar a dissipação, não pedir a opinião de todas, não desanimar com a ingratidão e não investigar curiosamente os caminhos pelos quais Deus me conduz. Oitava arma no combate espiritual do devoto da misericórdia: não ter medo da luta, pois a própria coragem muitas vezes afasta as tentações, que não ousam nos perturbar. Não se guiar pelo sentimento.

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