quinta-feira, 21 de julho de 2016
Enterrar os mortos
“Mas Tobit temia mais a Deus que ao rei, e continuava a levar para a sua casa os corpos daqueles que eram assassinados, onde os escondia e os sepultava durante a noite.” Tobit enterrava os mortos, mesmo sendo proibido, pois temia mais a Deus que ao rei.
Pesquisas científicas comprovam que o homem começou a “esconder” os corpos de seus mortos a mais de 100 mil anos atrás; fósseis humanos foram encontrados em covas e outros locais protegidos principalmente em cavernas. Na palavra de Deus, o costume de enterrar os mortos aparece como um dos preceitos do Deus de Abraão, veja a atitude do fiel personagem Tobit, diante de um cadáver de um de seus conterrâneos degolado e exposto na praça, ele mesmo, correndo risco de morte, tomou o morto e levou para sua casa:
“Quando o sol se pôs, ele foi e o sepultou. Seus vizinhos criticavam-no unanimemente. Já uma vez ordenaram que te matassem, precisamente por isso, e mal escapaste dessa sentença de morte, recomeças a enterrar os cadáveres! Mas Tobit temia mais a Deus que ao rei, e continuava a levar para a sua casa os corpos daqueles que eram assassinados, onde os escondia e os sepultava durante a noite.”
Por este exemplo compreendemos que enterrar os mortos além de uma questão de saúde pública, é uma atitude de temor a Deus, de piedade, respeito, amor e misericórdia para com o falecido. A sepultura dos mortos revela o nível de humanização e o grau de civilização de uma sociedade humana. Todos nós sentimos horror diante de imagens que mostram ultrajes e violências contra os corpos mortos de inimigos durante a guerra. Percebemos uma sacralidade violada, consideramos ímpia e desumana essa forma de atuação.
O livro do Eclesiástico (Eclo 38,16) diz: “Meu filho derrama lágrimas sobre um morto… sepulta o seu corpo segundo o costume, não descuide de sua sepultura.” A ausência da sepultura era considerada uma maldição, um sinal de abandono da parte de Deus (Sl 78, 2-3; Jr 16, 4-6); ainda podemos observar o costume de comparar a morte com o sono, o livro de Genesis ( 46, 4), o termo “cemitério” deriva de um termo grego que significa “dormitório”. São João Crisóstomo escreve: “O lugar da sepultura chama-se ‘cemitério’ para que se saiba que aqueles que aí repousam não estão mortos, mas a dormir”; e, depois de ter observado que, muitas vezes, na Escritura, a morte é evocada com a imagem do sono e se diz dos mortos que estão adormecidos, acrescenta que daí deriva a palavra “cemitério”, ou seja, “dormitório”, “lugar onde se dorme”a espera da ressurreição.
O corpo é templo do Espírito Santo.
No Novo Testamento esta ação de enterrar os mortos toma uma dimensão ainda mais especial: a palavra de Deus diz:
Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis? Porque fostes comprados por um grande preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, (1 Cor 6, 19-20).
O corpo do homem é templo do Espírito Santo, foi comprado por alto preço, o sangue de nosso redentor Jesus. Tratá-lo com dignidade, respeito e caridade e o mínimo esperado para o templo do Senhor que é o corpo humano, mesmo depois de morto.
A morte, a espera e o sepultamento.
Após a morte, a imediata preocupação dos vivos é com o sepultamento, até que isso aconteça, também faz parte da obra de misericórdia, a contemplação do mistério daquela vida e morte, a oração, a presença e o tempo dedicado somente para acompanhar os últimos momentos da presença corporal do defunto.
As inscrições nas catacumbas, cemitérios cristãos dos primeiros séculos, incluem votos para que os defuntos encontrem repouso e “refrigério” (= consolação). Desde os primeiros tempos, a Igreja honrou a memória dos defuntos e ofereceu preces em seu favor, principalmente missas, recomendando, também, esmolas, indulgências e obras de penitência em favor deles.
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