quinta-feira, 21 de julho de 2016
Rezar pelos vivos e pelos mortos
Como indica o Catecismo da Igreja Católica no tópico 362, “A pessoa humana, criada à imagem de Deus, é um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual”. Isto é, toda pessoa tem uma dimensão espiritual a qual rompe as barreiras do espaço e do tempo, de maneira que, em certa forma, pode ser estado unido a outras pessoas sem importar o local ou o momento em que se encontre; já seja que se encontre neste mundo ou que parta dele, como o afirma o Catecismo da Igreja no tópico 953, se referindo à comunhão dos santos.
Uma dessas obras de misericórdia é rezar pelos vivos e pelos defuntos, pois os efeitos da oração cumprem as características próprias de nossa condição espiritual.
362. A pessoa humana, criada à imagem de Deus, é um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual. A narrativa bíblica exprime esta realidade numa linguagem simbólica, quando afirma que “Deus formou o homem com o pó da terra, insuflou-lhe pelas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se num ser vivo” (Gn 2, 7). O homem, no seu ser total, foi, portanto, querido por Deus.
953. A comunhão da caridade: na sanctorum communio, “nenhum de nós vive para si mesmo, e nenhum de nós morre para si mesmo” (Rm 14, 7). “Se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele; se um membro for honrado por alguém, todos os membros se alegram com ele. Vós sois Corpo de Cristo e seus membros, cada um na parte que lhe diz respeito” (1 Cor 12, 26-27). “A caridade não é interesseira” (1 Cor 13, 5) (512). O mais insignificante dos nossos actos, realizado na caridade, reverte em proveito de todos, numa solidariedade com todos os homens, vivos ou defuntos, que se funda na comunhão dos santos. Pelo contrário, todo o pecado prejudica esta comunhão.
A oração
A Igreja convida-nos a orar pelos vivos e os defuntos; porém, o que é a oração? Através dos anos, deram-se muitas definições; uma delas é apresenta o tópico 2559 do Catecismo da Igreja, onde afirma que é “a elevação da alma a Deus ou a petição a Deus de bens convenientes”; e como Santa Teresa da Criança Jesus dizia: “É um impulso do coração”, com o qual se pode interceder ante Ele.
2559. “A oração é a elevação da alma para Deus ou o pedido feito a Deus de bens convenientes”. De onde é que falamos, ao orar? Das alturas do nosso orgulho e da nossa vontade própria, ou das “profundezas” (Sl 130, 1) dum coração humilde e contrito? Aquele que se humilha é que é elevado. A humildade é o fundamento da oração. “Não sabemos o que havemos de pedir para rezarmos como deve ser” (Rm 8, 26). A humildade é a disposição necessária para receber gratuitamente o dom da oração: o homem é um mendigo de Deus.
Rezar pelos vivos
Muitas vezes uma pessoa aproxima-se a outra para lhe dizer: “Reze por mim”, ou “Reze por meu irmão, amigo, ou avô”; talvez porque há algum problema que lhe está afligindo, lhe faz cair na desesperança e em alguns casos ir perdendo o sentido da vida; e tem a confiança de pedir à outra pessoa que interceda ante Deus, pois acha firmemente que Ele escuta as súplicas que se lhe enviam.
Mas, como saber se as orações para valer são escutadas pelo Pai? Em numerosas passagens dos Evangelhos, Jesus mesmo convida as pessoas que lhe seguiam a que pedissem confiadamente ao Pai, porque sabe que seu Pai realmente escuta as súplicas e as atende segundo seja Sua Vontade. (Cf. Mt 7:7-11; Mt 18:19-20; Mt 21:22; Mc 11:24-26; Jn 15:7; Jn 14:13; Jn 15:16)
Alguns exemplos escritos no Novo Testamento são: a intercessão de Maria no milagre das bodas de Canã (Jn 2:1-11), com a mulher Cananeia que pede por sua filha doente (Mt 15: 21-28), e como o pai de um epiléptico que se ajoelha ante Jesus (Mt 17:14-20). Nestes exemplos demonstra-se como quem se acerca a Jesus e pede ao Pai por outras pessoas, este escuta a seu Filho e concede o que aquele esteja necessitando.
Rezar pelos defuntos
Talvez se tenha escutado de parte de muitas pessoas, em especial das “não católicas”, que de nada serve rezar pelos que já morreram, e a maioria das vezes se baseiam em Eclesiastes 9:5 (onde se afirma que os mortos deixam de existir, pelo que é inútil pedir por eles) e em que nas Escrituras nunca se pede para orar por eles.
O primeiro que teria que assinalar é que o Eclesiastes é um livro do Antigo Testamento, e o Povo de Israel, nesse tempo, estava confuso quanto acreditar ou não em uma vida após a morte, pelo que existia certa divisão (Cf. Atos 23:7-8). Com a vinda de Jesus Cristo ao mundo, Deus deixa claro que após a morte o homem espera, seja para contemplar Sua Glória no Céu ou o “pranto e rechinar de dentes”, isto é, o Inferno. Portanto, se uma pessoa crê em Cristo, sem importar que seja católico ou não, necessariamente deve crer nas palavras escritas no Novo Testamento, pois neste se dá a plenitude da mensagem da salvação desenvolvida progressivamente nos livros do Antigo Testamento... Cristo veio para dar plenitude à lei. (Cf. Mt 5:17)
Agora, se olhar com cuidado o que diz Jesus nos Evangelhos, fica claro sua mensagem de que qualquer coisa que peçamos ao Pai, Ele a concederá; não faz exceções, nem notas aclamatórias que assinalem que de nada vale pedir pelos que já morreram.
Em disso, Jesus ora, e devolve a vida a Lázaro ante o pedido de Marta e Maria (Jn 11:17-44); à filha de Jairo quando este lhe implora que a cure (Mc 5:21-43); ou ao filho da viúva de Naín (Lc 7:11-17). Cristo faz isto porque sabe que tão importante é pedir pelos vivos ou pelos mortos, pois Ele sempre está da mesma maneira disposto a acolher com ternura as súplicas e a atuar segundo Sua Vontade.
Purgatório
Também nesta parte é importante fazer menção ao purgatório. O Catecismo da Igreja, nos tópicos 1030 e 1031, explicam como “... a purificação final dos escolhidos...“, isto é, que aqueles que morrem na graça e amizade de Deus, mas não purificados no tudo, precisam ser abraçados pelo fogo do Espírito Santo, “...a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu.”
Biblicamente, Paulo expressa que no dia do Julgamento “... o fogo provará a obra de cada qual: se sua obra resiste ao fogo será premiado... ele se salvará, mas como quem passa pelo fogo” (1Co 3:13-15). Este processo de purificação pode ser acelerado mediante práticas como a oração (Cf. 2 Macabeos 12:46); daí as intenções particulares que se apresentam nas Eucaristias, e a Celebração dos Fiéis Defuntos onde se pede por todos os mortos, inclusive por aqueles dos quais ninguém se recorda. Agora bem, muitos que negam a existência do purgatório argumentando que essa palavra não se encontra na Bíblia; no entanto, as palavras Encarnação e Trindade também não aparecem, mas são necessárias para explicar os mistérios de Nossa Redenção.
1030. Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não de todo purificados, embora seguros da sua salvação eterna, sofrem depois da morte uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrar na alegria do céu.
1031. A Igreja chama Purgatório a esta purificação final dos eleitos, que é absolutamente distinta do castigo dos condenados. A Igreja formulou a doutrina da fé relativamente ao Purgatório, sobretudo nos concílios de Florença (622) e de Trento (623). A Tradição da Igreja, referindo-se a certos textos da Escritura (624) fala dum fogo purificador:
“Pelo que diz respeito a certas faltas leves, deve crer-se que existe, antes do julgamento, um fogo purificador, conforme afirma Aquele que é a verdade, quando diz que, se alguém proferir uma blasfêmia contra o Espírito Santo, isso não lhe será perdoado nem neste século nem no século futuro (Mt 12, 32). Desta afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas neste mundo e outras no mundo que há-de vir” (625).
Conclusão
Então, para que orar pelos vivos e pelos defuntos? Oramos pelos vivos para que Deus, no infinito de seu Amor e Misericórdia, devolva a esperança, a ilusão, a vontade de viver para aquelas pessoas que as perderam, que caíram na miséria. E oramos pelos mortos para que Ele, em sua infinita Bondade e Misericórdia, acelere o processo de purificação da alma no purgatório. Desta maneira espera-se que acolha mais prontamente em seu Santo Reino aos que partiram deste mundo e lhes conceda desfrutar da Vida Eterna que é a meta pela qual todos os cristãos aspiram alcançar.
Neste Ano da Misericórdia é uma excelente oportunidade para pôr em prática esta obra, e assim ser como o Pai, rico em Ternura e Misericórdia, o qual, por meio de seu Filho prometeu: “Ditosos os misericordiosos porque eles alcançarão misericórdia” (Mt 7:7).
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário